OS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO

Este é um país onde os animais são bem tratados. De estimação ou não. Quando passeamos, seja em lazer ou à ida para o trabalho, quase sentimos inveja das ovelhas, vacas e cavalos que vemos por todo o lado. Bem tratados, à solta, com muita comida, com um ar plácido e simpático. Os cavalos até têm agasalhos!
E os cães, que loucura! São tão educados como os donos. Quando passeiam na rua, andam quase sempre de trela, não ladram às bicicletas, aos peões ou aos pretos, obedecem aos donos, têm um pelo maravilhoso, bem tratado e parecem felizes. Também vi os cães na praia, a correrem desalmadamente, sem trela, com uns donos bastante disponíveis e conscientes das necessidades dos animais que decidiram ter.
Ainda não vi o que nós chamamos "vadios" ou "rafeiros". Desconfio que não há. Tenho a sensação que, como em tudo, os holandeses encaram o animal de estimação com uma dedicação e responsabilidade igual a qualquer outro compromisso. Como tratar do jardim, pagar a casa, cuidar dos filhos, etc.
Os gatos andam à solta, nas proximidades do que deverá ser a casa dos donos e são gordos, amigáveis e, mais uma vez, com um pelo de fazer inveja. Tratado, portanto.
Deve ser bom ser um animal na Holanda...

A COMIDA

Finalmente, o capítulo da comida... ainda não percebi o que é típica comida holandesa ou não... Sei que têm muitas influências indonésias e sei que comem arenque, salmão, "chucrute" e merdas cheias de molhos... mas não sei se já comi alguma coisa tipicamente holandesa. A cantina até é fixe... tem muita variedade de coisas, mas o problema é perceber o que se está a comer. Todos os dias é uma aventura! E uma aventura comedida, já que tenho sempre o Glenn e a Anete para perguntar que trampas são aquelas... Uma das "especialidades" que provei foi um croquete cujo recheio era uma coisa à base de amendoim. E não me perguntem mais nada...
O conceito de sopa é muito diferente. A mim, parece-me que eles confundem sopa com molhos, já que têm sopa de caril, de vindaloo, de espargos (brancos) que tem ar de ter um litro de natas, etc. E têm uma sopa absolutamente repugnante, um caldo sem cor (água fervida) com salsichas cortadas às rodelas e mais umas merdas a boiarem. A versão deles da nossa canja, portanto.
O supermercado também é diferente. Enchidos são um mistério, ainda não percebi se têm fiambre e afins (presunto, esquece!) e peixe, nem vê-lo! Só arenque fumado e salmão...
A primeira coisa que cozinhei foi uma bela sopa de espinafres. Para me consolar.
Para compensar, tudo o que são lacticínios e carne, são bons. Na Holanda há mais vacas que pessoas (e eles são 16 milhões numa área pouco maior que o Alentejo) e o leite, iogurtes, queijos, manteiga e carnes são óptimos. Aliás, a carne é óptima crua porque quando eles a cozinham fica com um ar indescritível. Ainda não vi grelhados.
E são todos tarados por chá e café, embora nunca tenham tomado uma bela bica! Nem sei porque chamam café à mixórdia que bebem.
Acho que esta vai ser a parte mais difícil da minha adaptaçáo. Saber o que comer e o que comprar no supermercado. Só sei que a próxima ceia de Natal vai ser das melhores da minha vida. Já sonho com o bacalhau, a couve, os grelos, o nabo (que nunca comi, mas acho que desta vez vou comer), o grão...
E peixe grelhado, muito peixe grelhado! Vou passar metade das férias de Natal em restaurantes a comer peixe grelhado. E sopas. E feijoada. E esparregado de grelos. E sandes de presunto.

Agora, é verdade

As malas já foram. À minha frente, antecipando o caminho e as novidades.
E agora é mesmo verdade: mais uma mudança de casa, mais um trabalho novo, um bilhete só de ida, as saudades da família e dos amigos e todos aqueles clichés batidos.
E, no entanto, só penso em parvoíces: "Será que desta não falho o táxi para o Instituto?", "Será o taxista paquistanês vai pronunciar o meu nome de forma a que eu perceba?", "Será que as minhas coisinhas já estão em estradas espanholas?", "Quantas máquinas de roupa ainda tenho de fazer?"...